Eu tinha oito anos quando ouvi a
palavra "mochilão" pela primeira vez. Estava na casa de uma jovem
amiga da minha mãe, moça recém-chegada de uma viagem de 30 dias pela Europa.
Com o entusiasmo típico dos andarilhos, ela descrevia suas aventuras no Velho Continente, as confusões
com o câmbio (era pré-euro), as dificuldades enfrentadas nas estações de trem
por conta dos vários idiomas e as várias refeições regadas a sanduíches de
queijo.
À época, tudo me
parecia muito grande. Os mapas, os trens, os países e a moça viajante (tempos depois, eu viria a ter sorte de chamá-la de tia). Até as baguetes
francesas que apareciam nas fotos eram as maiores que eu havia tomado
conhecimento em meia década de existência. Mas algo daquela conversa ficou em
mim. “Vou crescer e ‘mochilar’ como ela”, repetia, sem saber ao certo o que o
termo significava.
Meu primeiro grande destino
poderia ter sido a Disney. Quase embarquei naquelas excursões repletas de
adolescentes que usam camisetas iguais e placas identificatórias até nas roupas
íntimas. Entretanto, complicações financeiras, somadas ao desagradável episódio
de 11 de setembro de 2001, cancelaram meus planos. Já o tempo – não à toa considerado o “senhor da razão” - encarregou-se de eliminar todo o desejo que um dia tive
(será se tive?) de visitar a casa de Mickey Mouse.
A rota inaugural aconteceu mais tarde, quando eu já tinha idade suficiente para me jogar de cabeça na
vida underground da Inglaterra. Estudei durante nove meses em Londres,
experiência que renderá alguns posts neste espaço. Por ora, digo que a aventura
da terra da Rainha me fez mais hábil, capaz, madura e ruiva.
De lá, fiz minha tão sonhada
Eurotrip, visitando 15 países em pouco mais de um mês. Fui sozinha, dormindo em
albergues, estações ferroviárias e aeroportos. Comendo sanduíches ou ‘podrões
locais’ (que serão abordados em um post futuro). Parti de Liverpool e cheguei a
Pisa, via França, Alemanha, Holanda e Leste Europeu. Foi como se um grande
livro de história se materializasse diante de mim. Não economizei lágrimas.
Aliás, a única coisa que mochileiro deve economizar em viagens é dinheiro. O resto não merece ser poupado. Toda espontaneidade é valida quando se está pelo mundo (embora isso possa causar certa dor de cabeça no momento em que a realidade bate à porta). É para falar com estranhos mesmo. Nem que seja num “dialeto” que misture seu idioma com o interlocutor. A comunicação vai além da perfeição dos vocábulos.
Seis anos já ficaram para trás
desde a primeira jornada. Nesse ínterim, cheguei a fazer nova incursão pelo Velho
Continente, contemplando cidades que foram excluídas da viagem inicial. Também passei
pelos EUA, América Latina e estou aprendendo a ser turista no meu próprio país. Aos poucos, detalharei cada rota, destacando lugares imperdíveis, curiosidades e (por que não?) ciladas.
Meu nome é Karla, tenho 27 anos,
sou jornalista, falo para caramba, escrevo mais ainda e viajo porque é na
estrada que encontro minha melhor versão. Quem sabe um dia eu não consigo
trazê-la para a rotina de vez...
Missão atual: Espanha (Sevilha, Granada, Baeza, Úbeda, Jerez
de la Frontera, Cordoba, Arcos de La Frontera, Sanlucar de Barrameda e Ronda) e Portugal (Lisboa, finalmente?).
Decolando: 17 de maio de 2014.
Texto perfeito e contagiante. Até os suspeitos podem afirmar isso sem culpa ;-)
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