domingo, 25 de maio de 2014

Diários da Andaluzia: bate-volta em Córdoba

A Andaluzia está entre minhas rotas dos sonhos há bastante tempo, porém sempre pareceu contramão. Quando decidi retornar à Europa para estudar espanhol, não hesitei em escolher a comunidade autônoma como destino.

Considerada por muitos um "mundo árabe" dentro da Península Ibérica, a região é composta por oito províncias. Todas estão ilustradas na imagem abaixo (sei que vocês, mochileiros, amam um mapinha esperto):

Mapa simplificado da Andaluzia 
Meu pouso é a capital Sevilha, que será tema de inúmeros posts aqui. Por enquanto, vou falar sobre meu bate-volta a Córdoba, cidade da província homônima onde ruínas cristãs, islâmicas e judaicas convivem em perfeita harmonia.

Os espanhóis costumam usar a palavra "tontería" para referirem-se a "besteiras" ou "bobagens". Pois meu dia de viagem começou repleto de "tonterías" – todas cometidas pela mochileira que vos fala.  

Fixei o despertador para 7h, porém não consegui levantar antes das 8h30, perdendo o trem mais barato do sábado. "Tudo bem", ponderei, "a promoção já era, mas o preço normal expresso no site não é ruim".

Tentando evitar o uso do cartão de crédito (IOF, seu danado!), resolvi comprar os bilhetes na própria estação. Imaginem minha paralisia facial quando o atendente disse que eles custariam €49 e não os €27 ("tarifa internet", agora eu sei) informados no portal.

"Oi? 49?"
"Com cinquenta centavos, senhorita! É um trem de alta velocidade..."
"Por esse preço, deve ser teletransporte..."

Os bilhetes já estavam impressos, lançando-me um olhar 43. Desistir deles significaria usar tempos verbais não aprendidos em espanhol. E sol raiava lá fora, poxa. O jeito era entubar o prejuízo e partir para o destino planejado. "É bom você valer a pena, Córdoba”, pensei.

De fato, o bicho-trem-boladão era rápido. Menos de meia hora depois (11h30), eu já havia chegado a Córdoba Central. No centro de informações turísticas da própria estação, é possível obter um mapa e uma tabela com os horários das principais atrações. E, por favor, não façam como.... não, calma, já comento.

Selecionei cinco lugares para visitar: Mesquita/Catedral, Judería (bairro judaico), Sinagoga, Alcázar de Los Reyes Cristianos, Torre de La Calahorra e Ponte Romana. Munida de todos os panfletos possíveis, iniciei a jornada.

A entrada da "cidade velha" é marcada pela Porta Almodóvar, uma das poucas fortificações medievais ainda existentes em Córdoba. 

Porta Almodóvar: entrada do bairro judaico de Córdoba

Minha primeira parada foi a sinagoga, cuja visitação se encerraria nas próximas duas horas. Era difícil, no entanto, manter o foco diante da beleza quase cenográfica do bairro judaico.

Caminhando pelo bairro judaico

Após me perder propositalmente em várias vielas de "la Judería", encontrei meu alvo. A Sinagoga de Córdoba é o único prédio do tipo na Andaluzia e um dos três restantes na Espanha. Guardou consigo um pouco da história do povo judaico, expulso do país ao fim do século XV.
Sinagoga de Córdoba 

De lá, segui para a Mesquita/Catedral, cuja fachada dispensa maiores observações.

Catedral vista da Ponte Romana
Confesso: não sou muito fã de igrejas. Mas essa foi exceção. Fiquei – juro! – mais de uma hora dentro do templo. Até sentei em uma das cadeiras próximas ao altar para admirar a construção, que agrega características de basílica e mesquita por ter pertencido a cristãos e muçulmanos. Infelizmente, a luz natural não colaborou e não consegui retratar a beleza do monumento nas fotos.





























Nos arredores da Catedral, está o Alcázar de Los Reyes Cristianos, instalação das autoridades cristãs na época da Reconquista. Hora de contar a terceira – e última, ufa! – “tontería” do dia. Cheguei a passar pelo local duas vezes, mas minha curiosidade fez com eu retornasse à Juderia pensando “ah, posso vir mais tarde, fica aberto até as 20h...”. Não reparei, entretanto, que a entrada mudava de valor após as 16h30, acrescendo o preço do show da noite. Ou seja, ainda que você não possa/queira assistir à apresentação, tem de desembolsar €7 (e não os originais €4,50) para visitar o palácio. Respirei novamente, agradeci a Murphy pela benevolência concedida e entrei.

Caso ocorra a mesma situação com vocês, por favor, façam como eu: paguem o valor maior.  Do contrário, estarão perdendo esta vista: 


E este jardim:





Outro local que merece destaque é a Torre de La Calahorra, fortaleza construída no período da dominação islâmica que servia de proteção à Ponte Romana, localizada logo à frente. Optei por não entrar, pois já havia tido uma visão panorâmica da cidade no alto do Alcázar.

Torre de La Calahorra 

Muito sol na Ponte Romana


Antes de voltar à estação, passeei um pouco pelo centro “moderno” para ver como os nativos vivem. Descobri que a cidade estava em meio à Feria de Mayo e várias apresentações de flamenco ocorreriam naquela noite. Infelizmente, não poderia assistí-las. Era a hora de pegar o trem para Sevilha.

Apesar das moscas financeiras ingeridas, foi um dia lindo. Córdoba superou as expectativas e me fez ansiar pelas próximas viagens andaluzas.

Serviço:

Trem (bilhetes antecipados - Espanha)

Estação Santa Justa (Sevilha)

Estação Córdoba Central

Sinagoga
Entrada: franca

Mesquita/Catedral de Córdoba
Entrada: €8 (Vale muito a pena, não sejam sovinas! rs)

Alcázar de Los Reyes Cristianos
Entrada: de €4,50 a €7

Torre de La Calahorra
Site: www.torrecalahorra.com
Entrada: €4,50

6 comentários:

  1. Adoro seus textos, Karlinha! Acho que um mochilão com você não seria uma má ideia! ;)
    E que Jardim maravilhoso!
    Beijão
    Mari Biasutti

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  2. Karlinha, o seu texto é excelente.....já estou com vontade de voar para o Sul da Espanha (não conheço ainda)!!!! Divirta-se em Lisboa!! Aguardo as dicas!!!

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  3. Adorei!!! Aguardo Lisboa com ansiedade!!! Bjs

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  4. Karlinha, quero mais!!!! Coragem!! KKKKKKK

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